segunda-feira, 31 de maio de 2010

Diário do nada: terça feira santa


O noticiário no rádio informa que as investigações sobre o Deputado Federal, que já fora prefeito e agora pretendia ser governador, andava a passo de lesma. Investigavam como aquele político enriquecera tão rápido. Em dez anos seu patrimônio financeiro e material passou de quatro milhões para oitenta milhões. O critico do rádio disse que já sabia que ia dar em nada. Mais uma investigação que acaba em pizza, disse o locutor.
De repente sentia o Nada chegar, fazer todo o percurso até chegar ao cérebro, e sentir se fraco para fazer nada. Sentiu se impotente, sem poder de nada, sem nada ao seu poder. Ficou imobilizado pelo sentimento do Nada.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Diário do Nada: segunda feira santa


Esperava sentado e angustiado começar a novela. Mais uma em sua vida. Era o fim daquela temporada. Pelo menos pra ele. Bestial e inútil na sua vida. Para ele as novelas acabavam na segunda, quando sentia que aquilo que assistia não lhe acrescentava nada. Parava de assistir. Gostava de segundas feiras, achava que era dia de começar, de renovar. Ou de terminar. Novamente aquela sensação. Do Nada. De não ter o que pensar, de não ter como pensar. Estava como no dia anterior, preso no Nada. E ali ficou, por algum tempo.
Já conhecia este sentimento, esta zona de conflito em sua´lma. Não protestava mais. Deixava acontecer, afinal, acabasse a novela na TV, acabava o Nada dentro dele.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diário do Nada: reflexões sobre o paradoxo do Nada.



Nada. Simplesmente não sentia nada naquele dia. Nem alegria. Nem tristeza. Nem... nada. Só queria estar em outro lugar, com outra gente. Que fosse de preferência sua gente. Mentira! Estava mesmo era sonhando com cifras. Desejava estar rico. Sonhava estar num lugar evoluído, onde as pessoas gostassem (porque não?) de pessoas.
Ali não era seu lugar. Não era sua casa. Não eram seus amigos. Pelo menos é o que sentia. Além de nada.
Coração vazio e solitário naquela tarde de domingo, naquela província. Sim. Porque toda aquela gente era uma gente provinciana. Todos vivendo de aparências. Nem sempre ruins, mas nunca boas. E além de tudo, sempre com efeitos colaterais. Que começavam no fim de domingo e só terminavam na noite de segunda, quando percebiam que não havia conserto, aquela situação não havia conserto.
Ele tinha medo de quem dizia ter medo de gente. É porque se achavam melhores. Superiores e inferiores, diziam entre si. Contavam, ás vezes, alguma piada com alguma graça, ou nada. E riam, davam gargalhadas, riam muito, chegando a quase dar cambalhotas de tanto rir.
O Nada, aliás, não era somente um estado de espírito elevado e/ou rebaixado a nenhuma potencia. O Nada era um lugar secreto onde, em silêncio, se descobre apenas o nada. Que procurava se achar ou achar algo ou alguém, na verdade iria pela viela contrária, se perdia. Ou perdia a coisa, ou o alguém. Era assim que se encontrava no Nada. Perdido. Naquele dia. Naquele domingo. Naquela tarde. Naquele lugar.
Depois de algum espaço de tempo desconhecido ele saía do Nada. Retornava para o Ali e o Agora. Vivia. Sentia alguma coisa, algo se movia por dentro. Queria escapulir para expelir nos outros aquilo que encontrara no Nada. Mas fechava a boca e principalmente o coração, ainda havia um ali, claro, e nada saía.
Ir ao Nada era constante. De repente estava todo feliz para o Nada chegar (não que o Nada o entristecesse). E ele já sentia. Começava pelos pés, subia lhe as pernas, passava pelos órgãos genitais, quase o fazendo ter um orgasmo (aliás, vezemquando era bom sentir nada, oras bolas!), subia ao coração e pulmão, até chegar ao cérebro e ficar completamente no Nada.
O Nada, ás vezes, durava uma eternidade. Outras, vinha somente por segundo. Adorava aquilo. De qualquer jeito que fosse gostava do Nada. Somente sofria realmente, quando o Nada parecia não querer acabar nunca mais. Tinha medo. Sofria muito. Não queria morrer no nada. Tinha muito que fazer no tudo. E no nada, não conseguia fazer nada. E era o que o atormentava, ficar preso num espaço de tempo denominado Nada pra sempre.
Virou lenda naquele lugar. Não se sabe até hoje como ele conseguiu viver tanto no Nada. Tanta gente no Tudo. Ele no Nada. Mas... cada qual é cada qual. E ele era nada. Apenas nada.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Poemas Urgentes: Fecha as pernas, minina!


Fecha as pernas minina,
Tá todo mundo vendo...
Pensa alto não!
Tem tanta gente morrendo!
Eu sei que ocê é muié séria,
Às vezes doce, às vezes brava.
De vez em quando chora calada
E também, se deixa guardado,
O grito, no peito, sai e explode.
Pensa muito não!
Vai lá, faz, vive, seja feliz.
Canta meu bem, no meu ouvido,
Eu deixo você dizer as coisas erradas,
E depois corrigir.
Eu sempre te amei!
Pensa assim não!
Olha, você está em mim,
Eu te procuro e te vejo,
No meu sonho, na minha vida,
Na minha cama, na minha boca,
Na minha garganta, no meu coração.
Fecha as pernas!